Pensamento do Mês

"Sempre me pareceu estranho que todos aqueles que estudam seriamente esta ciência acabam tomados de uma espécie de paixão pela mesma. Em verdade, o que proporciona o máximo de prazer não é o conhecimento e sim a aprendizagem, não é a posse mas a aquisição, não é a presença mas o ato de atingir a meta."

(Carl Friedrich Gauss)



domingo, 21 de março de 2010

Um computador vindo da Grécia Antiga

Computador de 2 000 anos

Examinada por métodos modernos,
relíquia da Grécia antiga revela-se
a verdadeira tecnologia 1.0



CHIPS DE BRONZE
O mecanismo de Anticítera hoje e sua aparência original: a peça tinha 30 centímetros

Faz um século que o mecanismo de Anticítera, um artefato arqueológico da Grécia antiga descoberto em 1900 por mergulhadores, intriga os cientistas. Sabia-se apenas que o dispositivo funcionava como uma espécie de calendário lunar e solar. Um novo estudo, divulgado na semana passada, revelou que o aparelho era capaz de fazer muito mais do que apontar astros no céu. Utilizando técnicas de tomografia computadorizada e um sistema de imagens de alta resolução, um grupo de ingleses, americanos e gregos conseguiu recriar em detalhes o complexo sistema de engrenagens que forma o dispositivo e decifrar boa parte das inscrições gravadas nas peças. Concluiu-se que o mecanismo de Anticítera, descoberto próximo à ilha de mesmo nome, no litoral grego, é uma espécie de ancestral do computador moderno, um invento tão avançado para a época que nos dez séculos seguintes não se criou nada tecnologicamente tão elaborado. "O design do mecanismo é surpreendente e nos faz perceber quanto a civilização grega avançou no terreno da tecnologia", diz Mike Edmunds, professor de astronomia na Universidade de Cardiff e pesquisador-chefe do grupo.


As descobertas indicam que o mecanismo de Anticítera era constituído por, no mínimo, trinta engrenagens de bronze feitas a mão e organizadas de maneira a representar mecanicamente a órbita da Lua e de outros planetas do sistema solar. Em poucas horas, os astrônomos da época podiam prever a ocorrência de eclipses com anos de antecedência e representar a posição do Sol, da Lua e de planetas no céu. "A complexidade do aparelho supera a dos relógios, que só iriam aparecer nas catedrais medievais 1 000 anos mais tarde", surpreende-se Stephen Johnston, especialista em aparelhos de cálculos astronômicos da Universidade de Oxford. A história do mecanismo de Anticítera, desde sua descoberta, também ilustra a evolução das ferramentas de que os cientistas dispõem para descobrir segredos em artefatos arqueológicos.

Quando foi encontrado nas águas do Mediterrâneo, o mecanismo de Anticítera estava corroído pelo tempo e pela água salgada. Durante anos foi limpo e recuperado por arqueólogos. Do fim dos anos 50 ao começo dos 70, o dispositivo foi estudado em minúcias pelo cientista inglês Derek Price, que usou técnicas de raios X e, mais tarde, raios gama para examiná-lo. Price foi pioneiro em afirmar que o aparelho era mais do que um calendário lunar e solar. Para o cientista, o mecanismo de Anticítera era tão complexo que demandava uma revisão do que se sabia sobre o desenvolvimento tecnológico da Grécia antiga. Na época suas conclusões não foram bem recebidas por seus pares. O estudo divulgado na semana passada recupera e confirma as palavras do cientista inglês. Pesquisas feitas com manuscritos de Arquimedes, usando técnicas semelhantes às que decifraram o mecanismo de Anticítera, revelaram novos dados sobre os trabalhos do famoso matemático grego. "De maneira geral, estamos descobrindo que os gregos tinham muito mais conhecimentos de ciência e tecnologia do que pensávamos", diz Reviel Netz, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Se as pesquisas prosseguirem nesse ritmo, a tecnologia passará a figurar junto do humanismo no extraordinário legado da civilização grega.

Um grande abraço.
Prof. Ricardo Vianna

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